sábado, janeiro 20, 2007

Listeiro e Modernista

Sempre achei piada ao exercicio de fazer listas seja do que for, é um processo de sistematização e de obrigar a tomar decisões, de fazer rolar cabeças, de comprometimento com todos os arrependimentos e incoerencias que decisões tão limitativas acarretam.
Sigo as listas que surgem no final do ano com uma perspectiva lúdica e divertida interpretando o que está por detrás delas, gostos pessoais é certo, mas também muito de representação de tendencias vigentes, de colagens a fenomenos de pioneirismo na sua descoberta e anunciação da “boa nova” (Fomos nós primeiro falámos deles e lhe vislumbramos o “génio”)

A lista é como qualquer outro fenómeno cultural, à parte o objecto, são sistemas de castas e de ostentação de uma condição.
Há os que privilegiam os vanguardismos, outros as canções, sempre polvilhados pelos frutos da época que servem para atestar a qualidade e atenção dos mass media e também porque não querem deixar de estar associados aos nomes do momento. Depois há as escolhas da picardia “eu escolho estes porque os outros não gostaram e vice-versa e vou escolher o numero 1 diferente dos outros todos”.

Posto isto, nós os consumidores também escolhemos as listas com que mais nos identificamos e assim vamos ganhando simpatias e antipatias por jornalistas e respectivos jornais.
Gosto da critica, vale o que vale, não ligo a umas, tenho respeito por outras, e a esses vejo as listas e vou descobrir o que por ali anda. É para mim a sua utilidade.
Em tempos de ofertas-mil não tenho disponibilidade nem paciência para conhecer “tudo”. Tenho portanto uns “amigos” que me fazem a triagem. Uns gosto outros nem por isso, uns acho sobrevalorizados outros não e é essa a sua piada/utilidade.

Quando vejo as listas e seus nomes recorrentes penso “huu, deve estar aqui um clássico, qualquer coisa de extraordinário”. Se calhar o melhor é calar-me pois o que faço não arrasa como a música destes tipos e quando vou ouvir não raras vezes sinto que não há ali nada de colossal e que o que faço até me agrada mais. As listas servem-me assim também de moralização e de confiança “o meu disco é melhor que muitos destas listas, posso continuar a trabalhar":)

Das listas que me merecem crédito também encontro euforias que não compreendo e descubro coisas que me passaram ao lado. Postas estas ajudas, o meu ano em discos tem como máximo agrado o disco da Lilly Allen, o melhor disco pop de 2006 devedor de uma estética No Doubt – Tragic Kingdom. Do electro-clash-punk-etc já não tenho paciência para quase nada, tornou-se aborrecedo e repetitivo, é hoje mais moda de Shopping que outra coisa, Cansei de Ser Sexy foram os únicos que gostei. Para as electrónicas sinto-me no geral a não achar graça a nada, penso que será o regresso ao classicismo.

Foi necessário esta overdose de electro-musica-roupa-postura para percebermos que armar em moderno em 2007 será o mesmo que os nossos tios velhotes a dizerem tá-se bem quando falam connosco. Os verdadeiros modernistas do ano foram o Tom Waits e o Bob Dylan basicamente a fazer aquilo que sempre fizeram. Gostei do disco da Cat Power passado o preconceito que durou meses depois de ouvir a versão que odiei de Je T’aime Moi Non Plus do tributo ao Gainsbourg. Gnarls Barkley é o detentor da música que recordará 2006, Crazy. Bom disco mas nem todas as canções mantêm a fasquia.

Em Portugal Sam The Kid reconciliou-me com o hip-hop, género que também já me começava a entediar com a sua cristalização excessiva em torno dos seus tiques. Dead Combo e A Naifa foram os portugueses mais modernos, assinando os dois melhores momentos nacionais. No meio de tanto ténis anos 70-electro-roupa da bershka-DJ-rock-kispo de capuz felpudo-myspace-punk demonstraram que a tradição é a verdadeira porta da modernidade.

Hugo

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